AFFEGO - Associação de Goiás
O Labirinto
Autor do artigo: Ribeirão Pereira
Quando a Capital começou realmente a crescer, a avenida Bahia morreu. Nos meados da década de 70, o lugar já era um triste espetáculo para uns e um grande alívio para outros. De suas antigas casas de mulheres, algumas delas velhos solares que o raio partira ao meio, pouca coisa funcionava. Os luxuosos bordéis da Avenida Pernambuco – da Flora Martinez, Luzia Poltrona e Maria Mesquita – que disputavam entre si a primazia de terem em seus salões os coronéis do Interior, entre os quais o perdularíssimo Rui do Peixe, não existiam mais. O dinheiro viera-lhe fácil e sozinho esse Rui era um espetáculo a parte, ao presidir um banquete digno de uma orgia da roma pagã. Sem mais, sem menos, com dez mulheres a tiracolo e algumas bichas como damas de companhia, mandava emendar todas as mesas do salão e aí o demônio saía da garrafa e a alegria explodia. Uma enorme melancia retalhada em fatias e reconjuntada na forma de uma moranga sangrenta enfeitava o centro de um aparador atulhado de bebidas e comidas, com as bichas servindo-o na cabeceira da mesa – e a mulherada livre das migalhas da vida naqueles momentos vaporosos – ria à socapa. E a música? Era Carolina mesmo, de Luiz Gonzaga! No mais, casas vazias, sem as suas pequenas e distintas pensionistas de outrora, que haviam desaparecido e substituídas pelas velhuscas sentadas pelos cantos da sala e amargas como amêndoas vencidas, sem desconfiarem que a coisa acabara. Sumiu tudo. Primeiro as mulheres bonitas. Em seguida, os malandros gafiolas que – como os ratos – pulam também fora do barco, ao primeiro sinal de naufrágio, entre eles, alguns de honra como o Flores, o Meia Noite e o Bola Livre. Por último, as velhas e renitentes cafetinas e até a polícia que nada mais tinha o que fazer por ali. Onde estaria agora aquele mulherio vistoso, de rosto cansado e que no final da madrugada vinha tomar um escaldado no Brechó ou o último trago no Salerno? Ninguém sabe, ninguém viu, como bem disse a letra de um samba-canção da época, cujo título foi inspirado no nome de uma delas, Conceição de Tal!
AFFEGO - ASSOCIAÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS DO FISCO DO ESTADO DE GOIÁS
FONTE: www.affego.com.br
Autor do artigo: Ribeirão Pereira
Quando a Capital começou realmente a crescer, a avenida Bahia morreu. Nos meados da década de 70, o lugar já era um triste espetáculo para uns e um grande alívio para outros. De suas antigas casas de mulheres, algumas delas velhos solares que o raio partira ao meio, pouca coisa funcionava. Os luxuosos bordéis da Avenida Pernambuco – da Flora Martinez, Luzia Poltrona e Maria Mesquita – que disputavam entre si a primazia de terem em seus salões os coronéis do Interior, entre os quais o perdularíssimo Rui do Peixe, não existiam mais. O dinheiro viera-lhe fácil e sozinho esse Rui era um espetáculo a parte, ao presidir um banquete digno de uma orgia da roma pagã. Sem mais, sem menos, com dez mulheres a tiracolo e algumas bichas como damas de companhia, mandava emendar todas as mesas do salão e aí o demônio saía da garrafa e a alegria explodia. Uma enorme melancia retalhada em fatias e reconjuntada na forma de uma moranga sangrenta enfeitava o centro de um aparador atulhado de bebidas e comidas, com as bichas servindo-o na cabeceira da mesa – e a mulherada livre das migalhas da vida naqueles momentos vaporosos – ria à socapa. E a música? Era Carolina mesmo, de Luiz Gonzaga! No mais, casas vazias, sem as suas pequenas e distintas pensionistas de outrora, que haviam desaparecido e substituídas pelas velhuscas sentadas pelos cantos da sala e amargas como amêndoas vencidas, sem desconfiarem que a coisa acabara. Sumiu tudo. Primeiro as mulheres bonitas. Em seguida, os malandros gafiolas que – como os ratos – pulam também fora do barco, ao primeiro sinal de naufrágio, entre eles, alguns de honra como o Flores, o Meia Noite e o Bola Livre. Por último, as velhas e renitentes cafetinas e até a polícia que nada mais tinha o que fazer por ali. Onde estaria agora aquele mulherio vistoso, de rosto cansado e que no final da madrugada vinha tomar um escaldado no Brechó ou o último trago no Salerno? Ninguém sabe, ninguém viu, como bem disse a letra de um samba-canção da época, cujo título foi inspirado no nome de uma delas, Conceição de Tal!
AFFEGO - ASSOCIAÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS DO FISCO DO ESTADO DE GOIÁS
FONTE: www.affego.com.br