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Publicado em: 10/09/2013

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Microempresas: 66% no CE são de negros ou pardos

10/09/2013.

Dentre os demais donos de pequenos negócios cearenses entrevistados na Pnad, 357,1 mil se declararam brancos

Relegados à margem do desenvolvimento do País em boa parte da história brasileira, a comunidade negra começa a crescer também no mundo dos negócios. No Ceará, do total de 1.071.551 empreendedores, a maioria (707,7 mil ou 66,05%) são de negros e pardos, o que representa o sexto maior número de todos os estados do Brasil, segundo constatou o Serviço Brasileiro de Apoio ao Micros e Pequenos Empreendedores no Ceará (Sebrae-CE) a partir de informações colhidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"Embora os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro também tenham grandes elevadas de indivíduos desta raça/cor, a soma das participações do Ceará, Maranhão, Pernambuco e Piauí (ao lado da Bahia) contribuem bastante para a elevada participação do Nordeste nesta categoria de raça/cor", endossa o relatório elaborado pelo Sebrae nacional.

Participação

Dentre os demais donos de pequenos negócios cearenses entrevistados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2011, 357,1 mil se declararam brancos e 6,6 mil optaram pela classificação ´outros´ do IBGE.

Na prática, eles somados não chegam ao número de negros em igual posição no mundo dos pequenos negócios cearense.

Cenário beneficia a todos

Já o articulador da unidade de gestão estratégica da entidade no Ceará, Marcos Vinícius Gondim, acredita que a atual conjuntura econômica no Brasil tem beneficiado o surgimento e também o crescimento dos pequenos e médios negócios, o que, "por via de consequência gerou oportunidades nesta parcela da população (os negros)".

Prosperidade

"Como o mercado interno continua aquecido e não se abalou com as crises internacionais - afinal os exportadores foram abalados e há poucos pequenos negócios exportando -, a prosperidade dos PMEs (pequenos e médios empreendedores) é um fenômeno natural", analisa.

Outro fator que colabora com o aumento de empreendedores no Estado, de acordo com o articulador, é a média de sobrevivência das Micro e Pequenas Empresas (MPEs) - "acima da média nacional". Para ele, a segurança vista para os pequenos negócios no Estado motiva todo e qualquer raça a investir na criação da própria empresa.

Tendência de expansão

Inclusive, ele aponta a manutenção do surgimento de MPEs "4% ou 5% ao ano até 2017. "Um fenômeno particular que vai acontecer nesse contexto é a superação do número de PMEs pelos MEI (Micro Empreendedores Individuais)" em 2015", diz.

Ranking

Entre os estados com o maior número de negros e pardos donos de pequenos negócios, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios apontou que o Ceará esteve abaixo de Bahia (1,38 milhão), São Paulo (1,27 milhão), Minas Gerais (1,06 milhão) e Pará (905,54 mil).

"A participação do negro nos pequenos negócios acompanha a mudança do perfil do empreendedor, com mais qualificação e, principalmente, o sonho de criar e ter o seu próprio negócio ao invés de pretender um emprego formal", afirma Marcos Vinícius.

Em âmbito nacional, negros e pardos já comandam 49% das micros e pequenas empresas do País, número que se aproxima da fatia que representam na população (51%). São 11 milhões de empreendedores, 28,56% mais do que em 2001, quando os negros eram donos de 43% dos micro e pequenos negócios com faturamento de até R$ 3,6 milhões anual.

"A sociedade está se tornando menos desigual, mas as diferenças ainda são grandes", diz o presidente do Sebrae Nacional, Luiz Barretto. "O grande desafio é reduzir a desigualdade na renda e isso se faz com capacitação".

Renda média

A renda média dos negros empreendedores era de R$ 1.039 em 2011, ante R$ 2.019 dos brancos (diferença de 94,3%). Em 2001, a diferença era maior: 141,3%. Se entre brancos cada vez mais a motivação de se abrir um negócio é a oportunidade, entre negros a necessidade ainda predomina.

"A maior parte empreende por falta de opção, por serem excluídos do mercado de trabalho", diz Reinaldo Bugarelli, coordenador do curso de sustentabilidade e responsabilidade social da FGV. Levantamento feito pela pesquisadora da FGV Eliane Barbosa da Conceição mostra que a situação se repete no mercado de trabalho formal.

Considerando dados de seis regiões metropolitanas no ano de 2010, a renda média da população economicamente ativa branca era 83% maior do que a da negra (R$ 1.910 ante R$ 1.043).

Escolaridade

O avanço em termos de escolarização na última década foi pequeno. Em 2011, o negro empreendedor havia passado menos tempo na sala de aula do que o branco dez anos antes. Para Conceição, o preconceito, mais do que a falta de escolaridade, é o que acaba levando o negro a ser excluído do mercado de trabalho.

 

ARMANDO DE OLIVEIRA LIMA - REPÓRTER

 

Fonte: Diário do Nordeste