BNDES financiará compra de ativos de empresas em recuperação judicial
O programa terá orçamento de R$ 5 bilhões e prazo de vigência até 31 de agosto de 2017
No mesmo dia do início do julgamento do impeachment de Dilma Rousseff no Senado, o Palácio do Planalto convocou, de última hora, entrevista coletiva para anunciar medidas de incentivo ao crédito. O BNDES criou uma linha de R$ 5 bilhões para interessados na compra de empresas em recuperação judicial. Além disso, o banco também incrementou em mais R$ 4 bilhões sua linha de capital de giro, com taxas menores para os pequenos negócios.
O anúncio foi feito poucas horas depois de iniciada a sessão no Senado, e após um encontro do presidente em exercício, Michel Temer, com a presidente do BNDES, Maria Sílvia Bastos Marques, e o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira. Dias atrás, Temer chegou a dizer que, nesse mesmo dia 25, seria anunciada a lista de ativos que o governo vai conceder à iniciativa privada, mas a ideia foi abortada, para não parecer uma “afronta” ao impeachment.
A presidente do BNDES disse que a abertura de financiamento à compra de empresas em crise financeira só foi tomada depois de se constatar que os bancos privados não ofereciam o mesmo produto. “Não foi uma demanda específica, nem interna, nem externa. Encontramos uma falha de mercado e resolvemos criar depois de muitos estudos”, afirmou.
A executiva respondia a um questionamento sobre a questão específica da operadora Oi, classificada no governo Luiz Inácio Lula da Silva como a “supertele” nacional. Em junho deste ano, a empresa entrou com pedido de recuperação judicial no Rio de Janeiro, incluindo no processo um total de R$ 65,4 bilhões em dívidas.
Os bancos comerciais, na verdade, têm uma forte exposição às grandes empresas em recuperação judicial. No caso da Oi, por exemplo, a exposição do Banco do Brasil, Caixa, Itaú e Bradesco seria de cerca de R$ 12 bilhões.
Demora. Marcelo Gomes, presidente da Alvarez & Marsal no Brasil, empresa de consultoria americana de gestão de empresas, elogiou a iniciativa do BNDES. “O processo de recuperação judicial no País é demorado porque a venda de ativos enfrenta essa dificuldade da falta de crédito”, disse. Gomes está à frente de recuperações judiciais e reestruturações de empresas como OAS, Sete Brasil, GEP e Galvão Engenharia, entre outras.
Segundo Maria Silvia, no primeiro semestre de 2016, 923 empresas entraram em recuperação judicial, número 90% maior que no mesmo período de 2015. Apenas 1,1% delas conseguem se restabelecer em um período de 6 a 10 anos. Nos países desenvolvidos, a parcela das companhias que conseguem sair da recuperação judicial varia entre 20% e 30%.
Fonte: O Estado de S. Paulo